Costa, Marceliano. 30/10/2025
O que vem à sua cabeça quando ouve “Geração Z” ?
Você acha que é mais fácil ou mais difícil conseguir emprego hoje do que no tempo dos seus pais?
Quando alguém fala em “pensar rápido” e “pensar a longo prazo”, o que isso te faz lembrar?
Você acha que as redes sociais influenciam o jeito que as pessoas tomam decisões? Como?
A economista Olivia Carneiro, tem chamado atenção para um fenômeno inédito no mercado de trabalho contemporâneo: pela primeira vez em três décadas, os jovens da Geração Z enfrentam taxas de desemprego superiores às das demais faixas etárias.
Segundo a economista, esse cenário representa um alerta econômico sério, pois historicamente é natural que o segmento mais jovem da população concentre maior empregabilidade, justamente por possuir mais energia, flexibilidade e capacidade de adaptação tecnológica.
Entretanto, o que se observa hoje é o inverso — um grupo jovem com maiores dificuldades de inserção laboral, o que exige uma análise científica do problema, livre de ideologias ou discursos motivacionais superficiais.
A abordagem científica do problema
Olivia Carneiro propõe que o desemprego entre os jovens deve ser investigado à luz do método científico, formulando hipóteses que possam ser testadas e, a partir delas, desenhar soluções viáveis para o problema.
Ela distingue duas hipóteses principais: uma de natureza exógena (causas externas, ligadas à estrutura econômica e tecnológica) e outra endógena (relacionada ao comportamento e às expectativas da própria geração).
Primeira hipótese: o impacto da tecnologia e da inteligência artificial
A primeira hipótese levantada pela economista se refere a fatores exógenos, especialmente o avanço tecnológico acelerado e a expansão da inteligência artificial (IA).
Segundo Carneiro, essa hipótese já pode ser considerada empiricamente comprovada. Diversos estudos — inclusive os dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2024 — demonstram que o progresso tecnológico tende a ampliar a renda e a produtividade dos trabalhadores mais qualificados, enquanto reduz as oportunidades e os ganhos dos menos qualificados ou daqueles que estão ingressando no mercado.
Em outras palavras, o desenvolvimento tecnológico não cria desemprego em si, mas desloca a demanda de trabalho, exigindo novas competências que a juventude, em muitos casos, ainda não domina.
Segunda hipótese: comportamento e expectativas da geração Z
A segunda hipótese, que Olivia Carneiro considera mais suscetível à intervenção prática, diz respeito a fatores comportamentais e culturais da Geração Z.
Para a autora, há um descompasso entre as expectativas dessa geração e as demandas reais do mercado de trabalho. Ela destaca dados preocupantes que reforçam essa tese:
65% dos jovens da geração Z afirmam desejar ser criadores de conteúdo como carreira principal — um setor que, embora atraente, é altamente competitivo e concentrado em poucos profissionais de sucesso;
74% preferem trabalhar de forma remota ou híbrida, mesmo sem experiência prévia em ambientes presenciais;
e, por outro lado, 88% dos empregadores relatam resistência em contratar jovens, por considerá-los profissionais “difíceis de lidar” e com baixo desempenho relativo.
Esses indicadores – relatados na Gallup que é uma empresa americana de pesquisa de opinião, análise e consultoria – revelam um desalinhamento entre oferta e demanda de trabalho, o que, em termos econômicos, caracteriza um tipo de desemprego estrutural misto — resultado tanto das transformações tecnológicas quanto da inadequação comportamental dos trabalhadores à nova estrutura produtiva.
Leis econômicas e responsabilidade individual
Com clareza analítica, Olivia Carneiro ressalta que esse cenário é consequência direta da lei da oferta e da demanda.
Quando há excesso de jovens com perfis semelhantes, mas baixa qualificação ou resistência a se adaptar, a oferta de trabalho supera a demanda — o que reduz o poder de barganha dessa faixa etária.
A economista enfatiza que não se trata de culpar os jovens, mas de compreender que o mercado de trabalho não se ajusta às vontades individuais. Enquanto a inteligência artificial e os profissionais mais experientes aumentam sua produtividade, os recém-ingressos precisam investir em formação e entrega de resultados para manterem sua competitividade.
Perspectivas de política pública
Do ponto de vista das políticas públicas, Olivia Carneiro identifica duas vias principais de solução para mitigar o desemprego juvenil:
Educação e qualificação profissional – fortalecer o ensino técnico, o ensino superior e a capacitação voltada às novas demandas do mercado digital e produtivo. A economista alerta contra o discurso comum de que “faculdade é inútil”, lembrando que formação sólida ainda é o melhor antídoto contra o desemprego estrutural.
Esforço e adaptação comportamental – desenvolver nas novas gerações competências socioemocionais e profissionais básicas, como disciplina, pontualidade, comunicação e responsabilidade.
Carneiro defende que o equilíbrio entre qualidade de vida e esforço profissional é essencial, mas que a exigência por boas condições de trabalho deve vir acompanhada da entrega de resultados e experiência prática.
Conclusão
A análise de Olivia Carneiro demonstra que o desemprego da Geração Z é um fenômeno multifatorial, que combina a revolução tecnológica (que muda a natureza do trabalho e das qualificações exigidas); com mudanças culturais e comportamentais dentro da própria geração. Trata-se, portanto, de um desafio que exige respostas coordenadas entre políticas educacionais, empresariais e individuais.
Como resume a economista, “não adianta ideologia nem discurso motivacional”: a economia é uma ciência, e o problema do desemprego juvenil só será superado quando houver equilíbrio entre capacitação, responsabilidade e adaptação realista ao mercado.
O desemprego entre os jovens da Geração Z tem se tornado um dos maiores desafios econômicos atuais. A economista Olivia Carneiro analisa esse fenômeno em um ponto de vista não ideológico com ênfase em análises científicas, destacando suas causas estruturais e comportamentais — e apontando caminhos práticos para enfrentá-lo.
Antes de começar a leitura, analise o seguinte problema e tente resolver.
Um taco e uma bola custam $1,10 no total.
O taco custa $1,00 a mais que a bola.
Então… quanto custa a bola?
Esse problema faz parte de um programa de desafios desenvolvido pela economista e especialista em redução da pobreza, Olívia Carneiro, na qual conclui com base nos desafios que a maioria das pessoas responde em segundos — afinal, parece uma conta simples e direta. Mas é aí que mora o perigo. Nosso cérebro adora respostas rápidas e convincentes, mesmo quando estão erradas.
O psicólogo Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, mostrou que pensamos por dois sistemas:
Sistema 1: rápido, intuitivo e automático.
Sistema 2: lento, analítico e cansativo.
Durante muito tempo, economistas acreditaram que as pessoas eram racionais, calculistas, sempre avaliando riscos e benefícios. Mas foi Kahneman, ao lado de Amos Tversky, quem mostrou que somos movidos por vieses, emoções e atalhos mentais. Assim nasceu a Economia Comportamental, que une psicologia e economia para entender, de fato, como decidimos.
Kahneman reuniu todos estes conceitos no livro “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, um clássico que explica por que tomamos decisões brilhantes num dia e completamente irracionais no outro.
E o que isso tem a ver com o mundo de hoje?
Vivemos na era das decisões rápidas e recompensas instantâneas.
Nas redes sociais, o sucesso parece vir fácil: um vídeo viral, um influenciador milionário, uma “vida perfeita” que aparece no feed.
Enquanto isso, o estudo, o esforço e o pensamento crítico — coisas do Sistema 2, o modo lento e racional — parecem cada vez menos atraentes.
E é assim que muita gente cai em uma nova armadilha mental:
“Se todo mundo está ganhando dinheiro rápido, por que eu deveria me esforçar?”
A internet amplifica o Sistema 1 — queremos o resultado agora, sem reflexão, sem processo.
Mas o mundo real ainda funciona no ritmo do Sistema 2: é preciso esforço, paciência e constância.
Em 2017, outro Nobel, Richard Thaler, levou as ideias de Kahneman para o próximo nível. Ele perguntou: “Se as pessoas não são racionais, como podemos ajudá-las a tomar decisões melhores?”
Sua resposta foram os “nudges”, ou “empurrõezinhos” — pequenas mudanças no ambiente que direcionam o comportamento sem tirar a liberdade de escolha. Como por exempo, em vez de obrigar alguém a poupar, um banco pode deixar a poupança automática como opção padrão.
A pessoa pode mudar se quiser — mas, na prática, a maioria mantém a configuração inicial. Um simples detalhe que muda o comportamento sem imposição.
A lição de Kahneman e Thaler é mais atual do que nunca:
“Para melhorar a economia, precisamos entender o ser humano — com toda a sua emoção, preguiça e contradições.” Hoje, entender como nossa mente decide é essencial para não se deixar enganar pelo imediatismo da internet, pelos atalhos tentadores e pelas promessas fáceis.
Pensar devagar, analisar, duvidar — tudo isso dá trabalho. Mas é exatamente o que nos diferencia em um mundo onde todo mundo quer ser rápido.
A bola não custa $0,10, custa $0,05.
E o conhecimento não vem em um clique, vem com tempo e reflexão.
No fim das contas, pensar devagar pode até parecer difícil — mas é o único caminho para não cairmos nas armadilhas que o próprio cérebro (e a internet) podem criar.
Esse texto é uma revisão bibliográfica e apanhado de dados.
2025 - Olívia Carneiro - Economista e Influenciadora
2012, Daniel Kahneman - Rápido e Devagar - Duas formas de pensar
2010 - Gerd Gigerenzer, “Reflexões pessoais sobre teoria e psicologia”, Teoria e Psicologia
Você já sentiu pressão para “dar certo rápido” ou “ganhar dinheiro fácil”?
Como equilibrar a busca por qualidade de vida e o esforço profissional?
O que seria um “empurrãozinho” (nudge) que poderia te ajudar a estudar ou trabalhar melhor?
Se você fosse criar uma política pública para reduzir o desemprego dos jovens, o que faria?
Na sua visão após o a leitura do texto, pensar devagar é perder ou ganhar tempo?
PERGUNTAS DE INTERPRETAÇÃO
Segundo Olivia Carneiro, quais são as duas principais causas do desemprego da Geração Z?
Como a tecnologia e a inteligência artificial influenciam o mercado de trabalho atual?
O que significa dizer que o desemprego dos jovens é um problema estrutural misto?
Você concorda que parte do problema vem do comportamento da própria geração? Por quê?
O que a economista quer dizer com “a economia é uma ciência, não uma ideologia”?
Você acha que estudar e se qualificar ainda é o melhor caminho, mesmo com tantas promessas de sucesso rápido?